Conheça algumas das pesquisadoras do Unasp que mostram a relevância da mulher na Ciência e Sociedade
Com uma equipe comandada por mulheres, o genoma do novo Coronavírus foi concluído em apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso no país. Jaqueline Goes de Jesus, Flavia Salles, Ester Sabino, Erika Manuli e Ingra Morales Claro são pesquisadoras do Instituto Adolfo Lutz (IAL) e do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de […]
Texto: Aira Annoroso, Glória Barreto, Leandro Olveira e Mairon Hothon
Com uma equipe comandada por mulheres, o genoma do novo Coronavírus foi concluído em apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso no país. Jaqueline Goes de Jesus, Flavia Salles, Ester Sabino, Erika Manuli e Ingra Morales Claro são pesquisadoras do Instituto Adolfo Lutz (IAL) e do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP) e mostraram a importância e o papel que a mulher tem ganhado no país.
De acordo com a Unesco, elas representam 28% dos pesquisadores em todo o mundo, enquanto no Brasil os dados são mais promissores, há quase paridade com os colegas (49%) cientistas. Se por um lado há motivo para comemorar, por outro os avanços conquistados, não diminuem a necessidade de uma maior representatividade feminina nos diferentes setores da sociedade.
No próximo domingo, 8 de março, será comemorado o Dia Internacional da Mulher e data de homenagens também precisa servir de reflexão sobre o papel das mulheres na sociedade, na igualdade dos direitos, da representatividade, da sororidade e do empoderamento. O Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) aproveita a data para homenagear a todas as mulheres e mostrar um pouco do quanto elas tornam a Academia e a Ciência espaços ainda mais plurais.
Separamos os perfis de três pesquisadoras, que trabalham em algum dos campi do Unasp, com seus dilemas, dificuldades, áreas de atuação e breves depoimentos sobre os incentivos que as levaram a optar pela carreira científica. Conscientes sobre o papel que desempenham perante seus colegas e estudantes, as professoras mostram o quanto esse dia representa no atual cenário do país.
No início, no decorrer ou no topo da carreira, com gosto, facilidade, influência ou incentivo para a carreira científica, elas escolheram trilhar o caminho acadêmico e vão, a seu modo, abrindo espaços para mudanças de percepção e contribuindo para o aumento da presença feminina na ciência.
Andréa Longarini e o gosto pela Matemática
Interesse por desmontar brinquedos, máquinas e saber o que havia dentro de rádios, robôs e outros produtos eletrônicos… Com essas características normalmente pensa-se em algum menino, não é?! Nesse caso, trata-se de Andréa Longarini, antes uma menina, hoje uma mulher especialista em Ciência de Dados (Big Data Analytics) e em Matemática, Estatística e Computação aplicada à Indústria.
Com 44 anos, Andréa relembra com paixão como descobriu e desenvolveu sua aptidão pela área tecnológica e educacional. “Sempre me esforcei para acompanhar a matemática, meu forte sempre foi em resolver problemas de raciocínio lógico. Minhas melhores notas eram em algoritmo, análise de sistemas, dissertação, filosofia, psicologia, então meu conhecimento é interdisciplinar entre educação e tecnologia”, conta.
“Com a cara e com a coragem”
Nascida na cidade de Americana, interior de São Paulo, Andréa mudou-se para a capital no ano de 1996, a fim de iniciar seu curso Técnico em Processamento de Dados, e posteriormente a Graduação em Licenciatura Plena em Computação, ambos no Unasp-SP. Tudo sempre foi “com a cara e com a coragem”, pois sua família não tinha condições financeiras para esses sonhos. De serviços domésticos à técnica administrativa em uma escola, Andréa “ralou muito” para conseguir estudar.
A paulista sempre soube que o mercado tecnológico é exigente e sofre mutações inovadoras o tempo todo, e por ser mulher sentia a necessidade de estar um passo à frente para ser levada a sério e valorizada. Após sua graduação no Unasp, começou na Pós-Graduação em Ciência de Dados (Big Data Analytics). “Paguei essa especialização com muito esforço também, mas fiz um curso promissor para minha área”, afirma. E foi também aluna especial do Mestrado Profissional em Matemática, Estatística e Computação aplicada à Indústria, na Universidade de São Paulo (USP).
Em sua trajetória profissional na área tecnológica, Andréa começou cuidando da Informática de uma escola, onde ensinava crianças a darem seus “primeiros passos” no universo da computação, mas deixou o emprego após 2 anos e meio para atuar em uma empresa como Analista de Sistemas ERP, banco de dados, porém a paixão por ensinar sempre se manteve aquecida, mesmo tendo deixado de dar aulas e ter trabalhado na área técnica.
“Quando cursei a Pós-graduação, fui uma aluna dedicada, minha nota mais baixa no curso foi 9, isso chamou a atenção da coordenação, então quando me formei, fui convidada para dar aulas nos cursos de Pós-Graduação em Ciência de Dados e Inteligência Artificial”, completa Andréa, ao explicar quando surgiu sua primeira oportunidade de se tornar uma professora universitária
Discriminação de gênero e novas oportunidades
Posteriormente a profissional foi convidada para atuar como docente nos cursos de Engenharia da Computação e Ciência da Computação do Unasp-SP, onde é admirada pelos alunos, cuja maioria é homem. Mas nem sempre foi assim. Andréa conta que já sofreu bastante preconceito por ser mulher e trabalhar na área técnica da tecnologia.
“O preconceito é muito forte nessa área, os homens são promovidos e as mulheres dispensadas na primeira crise da empresa. Os clientes homens acham que as consultoras mulheres não entendem do assunto, perguntam somente para eles e não acreditam quando falamos sobre alguma solução. Sempre é preciso algum outro profissional homem “endoçar” para a solução proposta ser aceita”, explana a pesquisadora.
Segundo ela, as piadas de mau gosto eram frequentes, e em duas ocasiões saiu de empresas por ter sofrido assédio moral. “Mas ainda há lugares bons para se trabalhar e hoje a inclusão de mulheres está em alta, então é um ótimo momento para deixar o medo de lado e desenvolver uma carreira tecnológica”, aconselha.
Depois de enfrentar muitas batalhas, Andréa Longarini conquistou seu espaço trabalhando como professora universitária e como cientista de dados em uma empresa privada de desenvolvimento de software e inteligência artificial – lugares onde se sente realizada unindo as duas áreas que ama: educação e tecnologia, e leva o conhecimento adquirido de um para o outro.
Confira a participação da professora Andréa Longarini para o jornal Bora São Paulo, da TV Band.
Dayse Neri, docente por descendência
A Doutora em Educação Dayse Cristine Dantas Brito Neri de Souza é professora no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Sua trajetória como docente começou há 25 anos. “A minha docência iniciou, basicamente, em 1995. Essa experiência é até engraçada porque a minha família toda é de docentes. Minha mãe até me aconselhou em não escolher ser professora”, relembra.
A linhagem de docentes só foi fortalecida com a presença de Dayse Souza. Natural de Pernambuco, ela apresenta uma extensa carreira docente, com passagem por relevantes instituições internacionais. Tudo começou no seu Estado de origem formando-se em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE no ano de 1989. “A carreira docente era um sonho que foi sendo construída ponto a ponto com muito carinho e gosto”, destaca. Fora do Brasil, concluiu seu programa de Doutoramento em Ciências da Educação (2006), e na sequência o pós-doutorado (2009), ambos pela Universidade de Aveiro, em Portugal.
Seu engajamento acadêmico sempre foi marcado pela excelência. Ainda em terras lusitanas, foi pesquisadora do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) e lecionou Metodologia de Investigação em Educação no Mestrado em Didática e no Programa Doutoral em Educação no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.
Mãe de todos os alunos
Para a professora Dayse, não ter filhos a deixa em vantagem em relação a outras colegas que são mães, pois tem menos exigência para administrar os horários. No entanto, o fato de não ser mãe, não a exime de passar noites em claro por conta de sua profissão. “A noite eu durmo aproximadamente de 4 a 5 horas. As vezes acordo às três da manhã, para otimizar o tempo, adianto as tarefas da casa. No fim das contas, a gente enquanto professora, torna-se mãe de todos os alunos”, conta a pesquisadora.
São diversos os desafios para uma mulher que trabalha dentro e fora de casa, a jornada de trabalho deixa de ser comum e se torna dupla, passando o dia fora de casa e exercendo as atividades domésticas ao voltar do trabalho. Essa jornada aumenta conforme a família cresce. Então, o trabalho não é tão difícil quando não se tem filhos. “Muitas vezes dormimos e acordamos como se tivesse devendo sempre alguma coisa. Atividades extras acabam acumulando e compromete a agenda. Apesar dos sacrifícios e sobrecargas, é uma profissão que nos traz imenso prazer”, afirma.
Nos últimos 4 anos, Dayse tem desenvolvido estudos na área do envelhecimento e cuidadores informais de idosos. Esteve como Coordenadora do Projeto sobre cuidadores informais de idosos, com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Atualmente coordena o projeto “Inovação Didática no Processo de Orientação e Desenvolvimento de Projetos de Investigação”, também com financiamento da FCT.
Keyla Ferrari Lopes e a transformação de corpos e mentes
A profissão dela é ser docente, mas a vocação é o amor que sente pelo trabalha, ensina e se envolve. Para Keyla Ferrari Lopes, o que parecia inusitado, o fato por exemplo de dançar com surdos, cegos e pessoas que não saem da cadeira de rodas já recebeu reconhecimento global. Em outubro de 2016, a pedagoga paulista saiu presidenta regional do Conselho Internacional da Dança da Unesco, a agência para educação e cultura da Organização das Nações Unidas.
Ainda jovem, começou sua carreira como bailarina, quando com 19 anos e já ensinando esse esporte recebeu em sua aula um aluno cego e outro surdo. “Foi nesse momento que quis entender o mundo dessas crianças e o real valor da expressão para elas e fui cursar pedagogia com foco em atividade motora”, relata.
Como não havia nada de artístico para pessoas com deficiências intelectuais, motoras e sensoriais na sua região, Keyla abraçou a causa. “Acreditei que era possível dançarem embalados apenas pelo ritmo das batidas do coração”, diz. Os movimentos fluem. Os surdos ficam sem sapatos e sentem com os pés a vibração da música no tablado. Aos que não veem, ela explica com toques físicos.
A dança como mudança de vida
Da graduação para uma especialização em Educação Especial pela Faculdade de Motricidade Humana – Universidade Técnica de Lisboa (2006), Keyla retornou ao Brasil e começou seu Mestrado e Doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estudando a relação de mães e filhos com deficiência, da frequência dos relatos de mães que passaram a dedicar-se inteiramente aos filhos e a escassez de atividades voltadas ao autocuidado e lazer dessas mulheres
Por meio do seu objeto de estudo, ela levou significado para muitas mulheres. De um grupo de mães que nunca tinham dançado, algumas passaram a atuar profissionalmente com o auxílio de seus filhos e dando palestras. “A questão do autoconceito, que eu já tinha percebido durante o mestrado, no universo dos bailarinos cadeirantes, agora apareceu nas mães. Por meio dos movimentos físicos, a gente percebe a importância de promover o desenvolvimento de todos os envolvidos a partir do contato, mãe e filho dançando juntos” ressalta a professora.
Autora do livro “Um encontro pela dança: Trajetórias e conquistas”, em autoria também com os professores Rosangela Bernabé, Paulo Ferreira de Araújo, Keyla Ferrari é professora do Unasp, campus Hortolândia há sete anos. Docente de Libras, Educação Especial e Desenvolvimento Motor, ela atua nos cursos de Pedagogia, Educação Física e na pós-graduação de Pedagogia do campus Engenheiro Coelho. Desde janeiro deste ano é membro do Conselho editorial do Journal of Education and Training Studies, um periódico especializado em Educação dos Estados Unidos.
Durante seu doutorado, Keyla enfrentou não apenas a pressão dos estudos e a carga do trabalho em sala de aulas, mas também a luta contra o câncer de mama. “Foi bem difícil, as sessões de quimio e radioterapia foram bem agressivas, mas não faltei uma aula sequer, não deixei a doença me abater. O apoio da minha família, amigos, alunos e professores foi essencial para o processo. Ser mulher é isso, é ser perseverante, forte, mostrar nossa capacidade e inteligência, nosso papel e lugar”, ressalta.
Assista a reportagem que a professora Keyla Ferrari deu ao programa Como Será? da Rede Globo. Clique aqui.
No vídeo abaixo você acompanha o trabalho desenvolvido pela professora Keyla Ferrari.