Entrevista - Psicólogo perito fala sobre comportamento suicida
Modesto Rolim Neto é livre docente pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Cariri (UFCA), na qual também leciona. Atualmente, coordena dois grupos de pesquisa, entre eles um sobre suicidologia. O trabalho do professor chamou a atenção do Centro […]
Texto: Redação
Modesto Rolim Neto é livre docente pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Cariri (UFCA), na qual também leciona. Atualmente, coordena dois grupos de pesquisa, entre eles um sobre suicidologia. O trabalho do professor chamou a atenção do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), que acena com uma parceria junto ao curso de Psicologia da instituição com o intuito de promover pesquisas e publicar um livro sobre saúde e religiosidade. Durante o II Congresso Brasileiro de Psicólogos Cristãos, que começou na última quinta-feira, 6 de fevereiro, no Unasp, Rolim Neto falou sobre o suicídio, tema também desta entrevista. O especialista se preocupa com o número de crianças e adolescentes com o distúrbio. Estar disposto a ouvir é a melhor atitude de familiares.
Agência Sul-Americana de Notícias – Como você define o suicídio?
Modesto Rolim Neto – O suicídio é uma atitude que provoca na pessoa lesões nos mais variados complexos de uma situação que momentaneamente essa pessoa não sabe resolver. É uma atitude que leva a um ato ou a uma possibilidade de ato. Claro que essa atitude tem um histórico, não vem do nada. Ela decorre dos remanejamentos de vida, das intempéries, das formas como você mal negociou algumas situações ou de um fato que chegou de forma brutal e o desequilibrou. Isso fez com que você tivesse uma atitude.
ASN – Qual o maior público que sofre com suicídio?
MRN – Os homens, pois eles estão envoltos em determinados estimulantes sociais: álcool, drogas, aparatos sexuais de forma muito vulgar, e outras sensações que são colocadas a ele com muita facilidade, mas sem muita propriedade. Ele se sente dono de um mundo que não existe. Vive um mundo de fantasia, de instantaneidades. Quando se dá conta disso, fica perdido.
ASN – E as mulheres?
MRN – As mulheres, por sua vez, têm tentativas. Não que elas não cometam suicídio. Hoje, as estatísticas apontam que elas são as que mais chegam perto de um indicador de atitude suicida.
ASN – Em relação à faixa etária, qual o maior grupo de risco?
MRN – Hoje, os grupos que mais nos provocam uma reflexão é a população infantil e adolescente.
ASN – As facilidades tecnológicas acabam expondo com facilidade a vida íntima de jovens e adolescentes, principalmente. Qual deve ser o cuidado para usuários dessas ferramentas de interação, como redes sociais e salas de bate-papo?
MRN – Primeiro, não torne público o que é privado na sua vida. Tente perceber o que é manuseado na sua casa. Quando você opta muito pela internet, possivelmente está tendo déficits emocionais em casa, e por isso buscando o ambiente virtual.
ASN – Qual o cuidado que os familiares precisam ter?
MRN – É preciso que as famílias acordem. Os problemas acontecem porque laços familiares estão sendo quebrados. As pessoas projetam no ambiente virtual o que não têm em casa. É preciso perceber o que está sendo feito na sala de casa, no quarto. Se você não vê, dá margem para que os filhos se exponham. Eu não sei se ele terá estrutura para as coisas que podem acontecer.
ASN – Que medidas e intervenções ajudariam a reduzir o número de suicídios?
MRN – Primeiro, precisamos mapear essas pessoas, nomeá-las. Não podem ficar anônimas. Tem que ter um aparato clínico e familiar para dar suporte. Sem isso, o paciente fica à mercê.
ASN – Qual o posicionamento recomendado para quem atende esse público, seja em clínicas de psicologia ou em igrejas?
MRN – Se capacitem, aprendam teoricamente para depois praticarem. Não façam o inverso. Participar de uma religião é uma coisa, dar aparato a uma pessoa que passa por uma situação complicada é outra. Muitas vezes, eu não quero escutar o que você quer me dizer, pois você é um intruso. É necessário saber como abordar cada pessoa. Por isso é necessário promover uma capacitação técnica e operacional.
ASN – Há quem relacione o suicídio à falta de Deus. O que os seus estudos apontam nesse sentido?
MRN – Uma coisa não interfere na outra. Deus é muito grande. É maior do que tudo isso. Não chega nesse patamar. Para mim, Deus é inegociável. Ele está além de qualquer coisa.
ASN – Há, no meio jornalístico, uma recomendação para não noticiar muito o suicídio. Qual é a abordagem jornalística ideal para o tema?
MRN – Chamar a família para os debates, colocar as instituições para falarem sobre a importância da espiritualidade na vida, na morte. Trazer o que você acredita como divino, sagrado, como um ponto de equilíbrio sem necessariamente tocar no tema do suicídio.
ASN – Qual o conselho sobre o suicídio para os leitores?
MRN – Traduza quem está próximo a você, pois pode perdê-lo a qualquer momento. Interprete os sinais, códigos, pistas. Faça qualquer coisa, nem que seja um gesto, isso pode fazer uma grande diferença.
[Equipe ASN, Lucas Rocha e Murilo Pereira]
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