Nutricionistas orientam cuidados necessários para quem faz jejum
Sempre relacionado a práticas religiosas, dietas e protestos políticos, o jejum agora já é apontado como benéfico para a saúde. Pesquisadores do Centro Médico Intermountain, em Utah, Estados Unidos, encontraram evidências de que se abster de comida de vez em quando também faz bem para o coração e para a saúde como um todo. Os […]
Texto: Redação
Sempre relacionado a práticas religiosas, dietas e protestos políticos, o jejum agora já é apontado como benéfico para a saúde. Pesquisadores do Centro Médico Intermountain, em Utah, Estados Unidos, encontraram evidências de que se abster de comida de vez em quando também faz bem para o coração e para a saúde como um todo. Os cardiologistas relatam que o jejum reduz os riscos de doença arterial coronariana (caracterizada pelo estreitamento dos vasos sanguíneos em decorrência do espessamento das artérias) e diabetes. Por outro lado, são notadas alterações significativas nos níveis de colesterol no sangue e no desenvolvimento do hormônio do crescimento (HGH).
Entenda melhor sobre como fazer um jejum corretamente e quais os benefícios dessa prática para o seu organismo e sua saúde espiritual nessa entrevista com as nutricionistas Margarete Carneiro (Loma Linda University) e Márcia Martins (Unasp campus São Paulo).
Como deve ser a preparação para um jejum? Que precauções devem ser tomadas?
O tempo adequado de jejum pode variar de uma pessoa para outra, dependendo do estado nutricional de cada indivíduo. O jejum é uma atividade com objetivo espiritual que afeta o corpo como um todo em seus componentes físicos e mentais. A abstinência de alimentos pode ser mais fácil para algumas pessoas do que para outras. Por essa razão, é importante conhecer o próprio corpo e seus limites. É importante que o corpo esteja bem nutrido e hidratado. Uma alimentação variada com cereais integrais, feijões, castanhas, frutas e hortaliças deve ser previamente praticada. No preparo para o jejum, não pode faltar um bom suprimento de líquidos na forma de frutas, sucos, caldos, hortaliças e água pura. É também importante consumir alimentos que contenham carboidratos, tais como cereais, pães e massas integrais.
O que acontece com o corpo durante o jejum aliado à reflexão espiritual?
Durante o jejum de curta duração, por não estar envolvido com o trabalho da digestão de alimentos, o organismo pode concentrar os seus esforços em atividades de cunho intelectual, como estudo da Bíblia, louvor, meditação e a oração. Além dos benefícios espirituais, o jejum periódico é um excelente exercício de refinamento e controle do apetite e da prática da temperança em geral. É importante recordar o impacto do apetite sobre a queda do homem. O descontrole do apetite continua sendo a causa da ruína de muitos devido às várias doenças que são consequências de hábitos alimentares inadequados.
Há pessoas que defendem o jejum completo, outras o jejum apenas de alimentos sólidos, tolerando o consumo de sucos, por exemplo. Do ponto de vista da nutrição, qual seria o jejum correto?
Do ponto de vista nutricional, o jejum pode ser definido como um jejum total (abstinência completa de alimentos por um determinado período de tempo), ou parcial (abstinência de determinados alimentos ou grupos de alimentos, mantendo-se a ingestão de algum alimento como fonte de energia, como por exemplo um jejum de frutas ou sucos). Do ponto de vista do jejum como exercício espiritual, não podemos impor como deve ser o jejum correto em termos de ser parcial ou total. Cada pessoa deve tomar a sua decisão sem criticar a escolha do outro, sem o espírito de comparação, e sim com o coração em contrição perante Deus (Mateus 6:16-18).
Quais as restrições em relação ao jejum?
As restrições em relação ao jejum variam de acordo com o tipo e duração do mesmo. Se for um jejum total, há restrições para pessoas com diabetes tipo 1, já que pode levar a quedas perigosas nos níveis de açúcar no sangue; diabetes tipo 2 em pessoas que façam uso de medicamentos ou insulina para o controle da glicose e que não tenham conhecimento de como fazer os ajustes necessários em caso de jejum, e sem autorização médica. O jejum total é também desaconselhável para mulheres grávidas ou lactantes; pessoas com doenças crônicas (câncer, doenças cardíacas, insuficiência renal, cirrose, etc); enfermos sem autorização médica; crianças; indivíduos empenhados em atividades físicas intensas durante o período em que o jejum ocorreria (ex.atletas, trabalhadores rurais, pedreiros, etc); indivíduos empenhados em atividades que exigem grande esforço mental durante o período em que o jejum ocorreria (ex.num dia de vestibular ou concurso); pessoas muito idosas sem autorização médica e pessoas que façam uso de medicamentos que requeiram a presença de alimentos durante o período em que o jejum ocorreria. Deve-se também desencorajar o jejum total em indivíduos que apresentem preocupação excessiva com a sua imagem corporal pelo risco de desencadearem um transtorno alimentar como a anorexia nervosa, especialmente na fase da adolescência. Se for um jejum parcial, as restrições ao jejum descritas são negociáveis, dependendo das condições de cada um.
Recomenda-se, se o indivíduo optar por um jejum de média ou longa duração (mais de 2 dias), que obtenha autorização médica e orientação de um(a) nutricionista, e de preferência o faça em um ambiente sob supervisão médica (como em clínicas de vida saudável de boa reputação). Lembrando que não é aconselhável a abstinência de água durante o jejum.
Vocês já jejuaram? Que benefícios vocês sentiram com essa experiência?
Sim, várias vezes. Eu já fiz muitos jejuns de 24 horas só tomando água; já fiz também jejuns parciais, tomando só sucos, ou comendo só frutas; já fiz jejuns de me abster de uma refeição (geralmente o jantar), e já fiz jejuns parciais de evitar doces e sobremesas por algum tempo. Sempre tive boas experiências, mas percebi que quando decido jejuar por 24 horas me sinto melhor se almoço num dia (geralmente na sexta-feira) e quebro o jejum no almoço do dia seguinte (no sábado), do que se faço de jantar a jantar ou de desjejum a desjejum. Tomar água ajuda a enganar a fome, e ocupar o tempo com programações espirituais sozinha ou em grupo. Geralmente quando quebro o jejum percebo que me sinto satisfeita com menos quantidade de comida do que o normal, e este efeito dura alguns dias. Eu sinto que é como se estivesse “resetando” a maquinaria do meu corpo e tudo funciona melhor depois deste descanso dado ao sistema digestivo. Me sinto também mais fortalecida para resistir às tentações, principalmente na área da alimentação e mais receptiva a aceitar a vontade de Deus se o meu jejum foi aliado a um pedido de orientação por um assunto específico. (Margarete de Macedo Carneiro)
Sim, muitas vezes. Também fiz jejuns de formas variadas e com isso aprendi a conhecer melhor o meu corpo, suas limitações e reações frente a períodos diferentes de jejum e distintas restrições de alimentos e bebidas. O ganho espiritual e de exercício de controle do apetite sempre foram muito positivos. Há um ganho na capacidade de concentração e, por consequência, do entendimento e compreensão das coisas espirituais. (Márcia Cristina Teixeira Martins)
Margarete de Macedo Carneiro é nutricionista do Trasnplantation Institute de Loma Linda University Medical Center, professora na área de Nutrição Vegetariana na Loma Linda University e está cursando o doutorado em Saúde Pública com ênfase em Nutrição pela Loma Linda University.
Márcia Cristina Teixeira Martins é coordenadora do curso de Nutrição, professora e pesquisadora vinculada ao Mestrado Profissional em Promoção da Saúde do UNASP, doutora em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutora junto ao Adventist Health Study-2, Loma Linda University.
Publicado também em Vida e Saúde – TV Novo Tempo
por (Entrevista: Lucas Rocha / Introdução: Robson Fonseca)